Emprestar o CPF para alguém abrir uma empresa

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Emprestar o CPF para outra pessoa abrir uma empresa no seu nome traz sérias consequências legais e financeiras. À primeira vista, pode parecer um favor inofensivo, mas essa decisão envolve riscos significativos que exigem análise cuidadosa.

Ao emprestar seu CPF, você assume a responsabilidade por todas as obrigações da empresa, como tributos, dívidas com fornecedores, pagamentos de funcionários e processos judiciais. Mesmo sem participação na gestão ou operação da empresa, qualquer irregularidade ou inadimplência afeta diretamente você.

Riscos associados ao Empresário Individual e ao Microempreendedor Individual (MEI)

A situação se agrava quando alguém registra a empresa como Empresário Individual ou Microempreendedor Individual (MEI). Segundo o entendimento do STJ no Recurso Especial nº 1.899.342 – SP, essas modalidades não possuem personalidade jurídica própria.

O empresário exerce a atividade em nome próprio, o que significa que o patrimônio pessoal se confunde com o da empresa. Por isso, credores entram com pedidos judiciais para bloquear valores das contas pessoais e penhorar bens do titular a fim de quitar as dívidas da empresa.

Além disso, o Empresário Individual e o MEI não se enquadram no rol de pessoas jurídicas de direito privado estabelecido no artigo 44 do Código Civil, pois não possuem ato constitutivo registrado, conforme exige o artigo 45. Dessa maneira, não há separação entre a pessoa natural e a atividade empresarial, o que expõe diretamente o titular do CPF às obrigações do negócio.

Riscos em sociedades de responsabilidade limitada

Mesmo em sociedades de responsabilidade limitada, onde teoricamente há separação entre os patrimônios pessoal e empresarial, o Judiciário pode responsabilizar diretamente o sócio que empresta seu nome.

Através do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, previsto no artigo 50 do Código Civil, o Judiciário pode determinar que, em casos de abuso da personalidade jurídica, caracterizado por desvio de finalidade ou confusão patrimonial, os bens pessoais dos sócios sejam utilizados para satisfazer obrigações da empresa.

Portanto, mesmo em sociedades limitadas, o patrimônio pessoal do sócio pode ser comprometido para quitar dívidas empresariais.

Possibilidade de crimes fiscais e outras implicações legais

Emprestar o CPF para abrir uma empresa apresenta um risco significativo, pois é impossível prever como a pessoa que operará o negócio agirá. Essa incerteza coloca o titular do CPF em situações graves, incluindo responsabilização por crimes fiscais e outras infrações penais, mesmo sem envolvimento direto na gestão da empresa.

Entre os crimes mais comuns estão sonegação fiscal, fraude contra credores e lavagem de dinheiro. A Lei nº 8.137/1990, que trata de crimes contra a ordem tributária, estabelece penalidades para omissão de informações ou declarações falsas à Receita Federal. Quando a empresa deixa de pagar impostos ou manipula informações fiscais, o titular do CPF enfrenta a possibilidade de ser responsabilizado, mesmo sem ter contribuído diretamente para o ato ilícito.

Além disso, a Lei nº 9.613/1998, que regula os crimes de lavagem de dinheiro, prevê punições para o uso de empresas na ocultação ou dissimulação da origem de bens e valores ilícitos. Nesses casos, tanto quem opera a empresa quanto quem empresta o CPF enfrentam processos criminais. O artigo 29 do Código Penal destaca que todos os envolvidos em um crime, mesmo indiretamente, respondem conforme sua participação. Isso inclui o titular do CPF que, ao ceder seus dados, facilita o uso irregular da empresa.

Considerações finais

Empresas podem acumular dívidas substanciais, e o titular do CPF acaba arcando com essas obrigações. Credores podem incluir o nome do titular em cadastros de inadimplentes, como Serasa ou SPC, dificultando o acesso a crédito e outras transações financeiras. Além disso, desvincular-se da empresa pode ser difícil, exigir custos elevados e envolver processos complexos.

Se você já emprestou seu CPF ou está pensando em fazer isso, busque imediatamente orientação jurídica. Um advogado pode esclarecer os riscos envolvidos, propor estratégias para minimizar os danos e auxiliar na resolução da situação.

O que inicialmente parece um simples favor pode se transformar em um problema gigantesco, com prejuízos financeiros de longo prazo e a possibilidade de enfrentar processos criminais.

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Daiane Borges

Sou advogada há 5 anos e atuo na área jurídica há pelo menos 9 anos. Formada em Direito pelo Centro Universitário do Distrito Federal - UDF e com diversos cursos de especialização na área. Meu objeto, enquanto advogada, é assessorar clientes a tomarem decisões acertadas e com segurança jurídica em seus negócios, seja na área empresarial ou imobiliária.

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